Oh! Universo, oh! sagrado aconchego
onde as moradas flutuam em harmonia,
teu infinito é majestoso berço
de toda obra divina concebida

Louca Dor que os séculos guardaram
Pulsa, vingativa, a cobrar
Gota a gota, o sangue derramado
Dia a dia, o instante eternizado
Quando o insano feriu sem pesar (...)

Teu toque doce de afeto, curava
Tua voz de amável razão, consolada
Tua nobreza no olhar, encantava
Tua mansidão no calar, conquistava
E tua força de amar, transformava (...)

Ave Maria, Plena de Graça
Deus é contigo, Lírio de Luz
Dentre as mulheres, a abençoada,
a escolhida, a serva amada.
Ao ventre, afagas o teu Jesus

Cansados olhos brilham paz, exalam a força
Da alma valente que venceu por muito amar
De sua voz, sentida rogativa ecoa
É a saudade que não cansa de O chamar: (...)

Quando paro...
Ouço o som que vem de dentro
Sinto o oculto sentimento
Adentro seguro abrigo (...)

No tempo em que, ao mando do destino,
Meu corpo apagar-se, já sem vida,
Me despirei da veste, agradecida,
E a restituirei ao solo amigo.

Te quero em paz, minh’alma, oh! como anseio
ver-te luzir em doce mansidão,
ver-te liberta dos pregressos tempos
em que te impus meu manto de ilusão

Vem, Misericórdia, ao solo em dor
Vem e acolhe ao colo o algoz que chora
Sara a culpa que em sua alma aflora
E suaviza a cruz que procurou (...)

Eu te acompanho desde esquecidos dias
Quando o Verbo do Divino te criou
E destinou-me, minha alma tão querida,
A ser teu guia em tua jornada no Amor

Bondoso Pai, tem compaixão de mim
que trago a mágoa arraigada ao peito
Eu me sufoco sem poder sorrir
ante as lembranças que atravessam o tempo

Senhor, ampara as mães dos filhos d’outrem
Que a Desgraça abandonou-lhes aos pés
Do coração exalam amor tão grande
Que amam os filhos que ninguém mais quer (...)

No agito das horas, me perdi de sentir
No correr dos dias, me perdi de você
No voo do tempo, me perdi de sorrir
Na pressa da vida, me perdi de viver

Nascer como as marés: recomeçando
Crescer como azaléias: perfumando
Amar como as constelações: brilhando
Sonhar como os poetas: delirando (...)

Te inunda de Serenidade! As lembranças queridas
Se unem às lembranças feridas querendo ensinar
Que a Vida é feita de escolhas e que a escolha escolhida
É sempre acertada se erramos tentando acertar (...)

Minhas leis as tereis, não mais em teus livros,
Não mais em teus templos e pregações
Não mais as tereis nos verbos restritos,
Que só te ofertaram umas poucas lições,

“Estamos no fim da vida”
Tu sempre aos ventos declaras
Mas de que vidas tu falas?
De certo não é da minha (...)

Eu Te percebo, oh! Meu Deus, em cada encanto,
Em cada olhar, em cada gesto de ternura
Na inocência das crianças, na candura
E na alegria dos afetos que se encontram

Siga feliz, amado filho, agora entendo
que as estrelas não deixaram de brilhar,
que as jovens nuvens sempre voltam ao céu, brincando
e à minha volta o Amor se expressa, me ensinando
que, de onde estás, nunca deixaste de me amar

Dispenso o amor de Platão
Dispenso o amor-interesse
Dispenso o amor-depressão
No amor, eu sou exigente (...)

Não sou a senhora do meu mal viver,
dos mil apegos que me pesam a cruz
Não quero ser... não sou, não posso ser!...
a madrugada que desdenha a Luz!

Que a minha vida seja o canto do que louva
Que o meu silêncio encerre o estrondo do que crê
Que o meu agir traduza a luz que, de Ti, jorra
E a minha prece, a honra de Te agradecer

Oh, triste mãe, que a própria dor sufoca
Que perde o filho mesmo em tendo-o vivo
Se alegra ao vê-lo vir, mas que ao ir, chora
Num vai e vem de alívio, dor e alívio (...)

Eu sou o espinho solto
Que abandonou a flor
O som silencioso
Da alma sem conforto
Que se esqueceu do amor

Eis-te de volta ao mesmo ponto de outrora
À mesma Dor, ao mesmo lago adormecido
Num ciclo débil que repete a trajetória
Ao ponto triste, de outras voltas conhecido (...)

Foram muitos os caminhos percorridos
Foram tantos os amores qu'encontrei
Foram tantos os enganos cometidos
Mil encantos onde muito me afundei (...)

Será possível ao amor vencer o tempo
Sobreviver aos mil percalços de mil eras
E até crescer, purificar-se em sentimento
A sublimar-se pelo amado a quem espera?

O que me faz feliz é poder ser quem sou
E saber quem serei quando eu quiser mudar
É saber de onde vim e escolher para onde vou
Flutuando os instantes que faço passar (...)

O mais belo som é o som do Silêncio
Que abranda o ruído que grita de fora,
Retira a trava em teus olhos sedentos,
E revela-te encantos, ocultos outrora:

A criança que te bate à porta,
Que te chega ao ventre abençoado
Volta à luz de longínquo passado
Como parte de tua longa história

Oh! Mestre amado, somos nós, os Exilados
Os degredados, os banidos, desterrados
Que em terra estranha afoga a ausência de um passado,
De um outro mundo, um outro alguém, um outro fado (...)

Da Assíria milenar dos navegantes
Da Damasco que São Paulo eternizou
Surgem gritos de amargura delirante
Que retumbam horrenda chaga, louca dor (...)