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Saga das Almas
ANJO

Houve um tempo em que o Ébano reinou
E a tristeza em fundo d’alma fez morada
Em que tudo nesta triste caminhada
Se tisnava com o látego da dor
Houve um tempo em que Amor, que Alegria
Eram sonhos, vis quimeras de uma tola
Que teimava em morrer-se - viva, embora
Entregando-se à cruel melancolia
Houve um tempo em que a lágrima soturna
Lá chegava sem motivos, sem razão
Se a achava em calma no coração
Lá se punha a semear ‘lguma amargura
Houve um tempo em que os olhos, já sem brilho,
Com vergonha, em vão buscavam disfarçar
A saudade que teimava em lhe chegar
O vazio em que afogava sem motivo
Mas aquele doce Pai, vendo-lhe a dor
Por saber-lhe os motivos da aflição
Foi buscar, dentre os anjos, um coração
Que lhe tinha, desde sempre, imenso amor:
Vai agora! Vai e mata essa saudade
Nostalgia que pranteia amor sem fim
Se tu queres, vai agora, sai daqui!
Desce logo, a lhe dar felicidade
Ouve bem, pequeno anjo que ora mando
Pouco tempo tu terás ao lado dela
Não alimentes nela sonhos ou quimeras
Não te esqueças que em breve já te chamo!
E onze longos dias passam, sustentados
Em alegria amparada na ilusão
De poder reter ao colo, ao coração,
O pequeno anjo a muito esperado
Mas do céu desce o mais receado anúncio
E o anjo abandona o colo, a vida
Deixa a mãe, que ainda não o merecia,
No raiar da dor maior que há no mundo
Doce anjo - disse a louca - doce tudo
Pouco tempo tu ficaste junto a mim
Não encontro n'outro ser - e muitos vi
Quem em minh’alma desperte amor tão profundo
Mesmo estando entre os anjos, me és real!
Sinto n’alma tua vontade, pensamentos
Que me chegam, e estes doces sentimentos
Despertastes p’ro meu bem (ou pro meu mal)
Alma minha tão gentil, por que partiste?
Tão cedo... disse, acho, algum poeta
Tu voltaste para Aquele que te espera
Me deixastes cá na Terra, sempre triste
E a triste, então louca, em sofrimento
Da esperança de revê-lo se alimenta
Suplicando novamente sua presença
P’ra senti-lo junto a si por um momento
E em seu ventre, antes estéril, sente então
Que uma alma doce ali buscou morada
O seu desespero, estranha brisa acalma:
Quem vem lá, invadir-me o coração?
Quem vem lá, a sustentar-me a caminhada?
Quem és tu, meu menino pequenino?
De onde vens? Onde vi esse sorriso?
O que liga teus passos à minha jornada?
Não importa quem tu fostes, mas quem és:
És meu filho tão amado, que hoje embalo
Tu chegaste (ou retornaste) aos meus braços
Aquecendo em gratidão a minha fé
E a jovem, antes louca, hoje em paz
E a saudade, quando surge da lembrança
Faz buscar-lhe no rostinho da criança
Outro rosto que o Tempo deixou p’ra trás.
(Samia Awada)


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Palavras-chave:
(dramas humanos, morte, reencarnação)