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ESCRAVIDÃO

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Em alta mata Ngola perde a vida
Meio à luta de amor à liberdade
Quando Europa, mãe África invadia
Por ganância, em selvagem conquista:
Terras, vidas que vende noutros mares

Vence Europa, que, cega à ambição,
Por mil nadas comprou a liberdade
De guerreiros que, em luta, caem ao chão
E de homens traídos por irmãos
Que traficam irmãos sem piedade.

Nobres homens, da cor da alta noite
Que reflete o brilho do luar
Perdem o lar, o futuro, o amor, a sorte
Caem presos ao peso do açoite
Dos grilhões, da vergonha de além-mar

Segue lento o cortejo, em correntes
Que igualam os reis e os guerreiros
Que amarram, das jovens aos valentes
Pés sangrando na dor que nunca geme
Os conduzem a Destino traiçoeiro

Segue aos gritos o louco lusitano
Que tem oco o lugar do coração
Olhos secos, só vê na “compra” o ganho
Do ouro farto em troca ao escravo Banto
Alma em trevas de insana ilusão

E os guerreiros, buscando a liberdade,
Alquebravam seus corpos ao tentar
Destruir os grilhões com a própria carne,
Arrancar do pescoço a peça infame
E voar como os pássaros ao lar

Mas se esvai a esperança com a visão
Do terror que atracara em meio ao mar
O temido navio da escravidão
Cativeiro de horror e maldição
Que os aguarda ansiando aprisionar

E o cortejo, em lamento, freia à praia
Sob o laço de largo desencanto
Mira a nau que os convoca à sina amarga
Volta o rosto e contempla a doce mata
Que se esvai sob olhar lavado em pranto

E a mãe África geme a dor que rasga
Coração que não cansa de implorar
Aos seus deuses dos rios e das matas
Pelos filhos que a escravidão maltrata
Sob o jugo do mal de outro lugar:

Venham, deuses dos Bantos, em socorro
Orixás, de Xangô a Ogundelê
Aprisionem as almas do homem louco
Arrebentem os grilhões que ofendem o povo
E libertem meus filhos do sofrer

Ressuscitem a Rainha Njinga Mbandi
Com Ekwikwi e Numa, grandes reis
Unam os Kongos, Matambas e os Kasanjes
Que revivam o exército gigante
E expulsem o mal de uma só vez

Mas chicotes lhe abrem as feridas
E empurram os guerreiros ao porão
Onde roubam-lhes força, orgulho, vida
Adoecem no caos da agonia
E conhecem loucura, humilhação

Segue a nau ao balanço dos gemidos
Da donzela em lágrimas, ao chão
Do pai louco, sem mais saber dos filhos
Das crianças em último suspiro
Rumo ao triste Brasil da escravidão.

 

(Samia Awada)

 

Licença de uso Pixabay, de compartilhamento e uso de imagens. 

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Palavras-chave:

poesia escravidão, Brasil, África, navio negreiro

Criado em Agosto de 2020

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