
Siga-nos nas Redes Sociais

Saga das Almas
CARTA DA DROGA A UMA MÃE

Eu te invejo, te execro, te odeio
Te cuspo os desejos
de felicidade
Te desprezo nos teus devaneios
E invado teus berços
com voracidade
Espreitei tua ingenuidade
Teu jeito arrogante
de ser tão certinha
Tua ideia que tuas verdades
Me afastariam
da tua família
Eu me ria quando te detinhas
Jorrando conselhos
aos teus pequeninos
E, sem pressa, eu armava armadilhas
Que despercebidas,
minavam teu ninho
Os cerquei de anseios bem feitos
Sem trégua ou receio
de não conseguir
Cultivei nos teus doces afetos
Enfado e tédio,
Vontade de ir
Aonde a modernidade divulga
Aos alienados
O tudo poderem
Destruindo as regras profundas
E adubando as almas
Pra me receberem
Inspirei-os a te desprezarem
E a se mascararem
de serem bons filhos
E guiei-os sem dificuldade
Às minhas cidades,
meus becos, meus cios
Aos meus vales de torta alegria
Onde morte e vida
não sabem o que são
E hoje os filhos que achavas que tinhas
Me odeiam e adoram
a minha ilusão
Ingênua, patética!
Na lágrima que molha as tuas olheiras arroxeadas
pelo desalento que te venceu e te curvou,
eu me realizo
E me mostro a ti despida, sarcástica, invejosa, insaciável
E te escrevo sem tuas rimas limitadoras,
sem tuas métricas ultrapassadas,
sem teus poemas dinossauros
E me mostro grandiosa, invencível, moderna, concreta, marginal!
Me sacio nos olhares mortos de futuro
dos filhos que perdestes com tua incompetência
Me sacio nos desejos imundos de liberdades inimagináveis
que plantei nos seus solos férteis ao vício que tudo pode
Agora colhidos,
Agora sorvendo, destruindo, corroendo, viciando... Viciados!
Querendo mais e mais e mais e mais e mais e mais e mais ...
Sem nunca saciar
Apagando teus restos nos teus filhos, que eu desprezo,
Apagando os teus conselhos impossíveis,
piegas, castradores, preconceituosos, ultrapassados ...
... e tão nojentamente amorosos
(És tão ultrapassada! O que fazes no meu tempo?)
Me sacio realizando
o maior dos meus prazeres:
Esfregar na tua cara, mulher,
que Eu, a Droga que abominas, te venci.
Agora teus filhos são meus!
Logo os jogarei fora.
De nada me valerão mortos.
Mas a tua dor...
... Ah! A tua dor é o meu maior triunfo!.
(Samia Awada)


Licença de uso Pixabay, de compartilhamento e uso de imagens.
Palavras-chave:
(dramas humanos, drogas, vícios)